sexta-feira, 19 de março de 2010

O otimista e o negativista - os dois maiores jornais do país.

Enquanto uns mostram fatos, outros brigam com a verdade


12 março 2010 Os jornais de hoje merecem uma comparação. E nem é necessário fazer uma procura muito grande. Basta comparar os dois maiores jornais do país que já é suficiente para ver como é possível tratar de formas diferentes o mesmo assunto. A capa da Folha de S.Paulo diz “Brasil teve o pior PIB em 17 anos”. A do Estado de S.Paulo, “PIB cai 0,2% em 2009, mas já cresce como antes da crise”. A primeira é negativa, e só. A segunda começa com a informação ruim, mas recupera, fechando com uma conotação positiva, que se sobrepõe. E olha que o Estadão é um jornal conhecidamente conservador.



O link do título da Folha no site, mas com o conteúdo do jornal impresso, conduz a um texto diferente. Ou seja, a própria Folha já reconhece, em suas páginas internas, que a coisa não é bem assim. A notícia é de que “Economia se recupera no final de 2009″. A ideia é oposta à que a manchete passa. Porque aí ela é contextualizada. O PIB não é mais simplesmente um resultado negativo do governo, mas consequência de um contexto econômico internacional, já se recuperando no final do ano. Há até um texto intitulado “Sob Lula, país cresceu mais que nos anos FHC”. Tudo muda.



Esse contexto já é dado por Estadão no olho da matéria, presente tanto na capa do jornal impresso quanto na chamada do site, que aparece ao lado da imagem da capa nos sites de ambos os jornais, junto com algumas chamadas para as matérias mais importantes.



Já fiz comentários semelhantes antes, mas diante da persistência dos jornais em fazer sempre a mesma coisa, vou também ser insistente: quando a informação é dada descontextualizada, quando se valoriza um aspecto que não dá a dimensão verdadeira do fato, é como mentir para o leitor. Ao priorizar a informação de que o PIB teve o pior resultado em 17 anos, Folha priva o leitor de saber que o dado principal é que ele já está se recuperando. O jornal omite.



Seria irônico, se não fosse um triste atentado aos princípios éticos do jornalismo. Mino Carta chama esse valor de “fidelidade canina aos fatos”. Outro jornalista que sabe das coisas diria que o Estadão não briga com a verdade. Folha não sabe o que é isso.

Fonte: Jornalismo B

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